A pressão política em Berlim para que a Alemanha abandone o projeto europeu Future Combat Air System (FCAS) ganhou força nos últimos dias, com declarações diretas de membros da bancada CDU/CSU no Comitê de Defesa do Bundestag (o parlamento alemão). A crítica central é que o consórcio formado por França, Alemanha e Espanha — inicialmente anunciado como o programa de defesa mais ambicioso da Europa neste século — estaria paralisado por disputas de poder, exigências unilaterais e uma crise de confiança entre governos e fabricantes.
Segundo o deputado Volker Mayer-Lay, o FCAS deixou de representar a visão original de um caça europeu de sexta geração baseado em soberania tecnológica, cooperação equilibrada e partilha justa da propriedade intelectual. Ele afirma que a convivência industrial entre Dassault, Airbus e demais parceiros foi fragilizada a ponto de comprometer o futuro do programa. Para Mayer-Lay, a única solução prática seria uma saída controlada do FCAS, que permitiria à Alemanha preservar o conhecimento adquirido sem ficar presa a um sistema de governança que considera desgastado.
A crítica ecoa análises publicadas pela imprensa internacional, que apontam que o impasse entre Dassault e Airbus se intensificou especialmente no que diz respeito ao controle sobre o “New Generation Fighter”, a aeronave tripulada que será o núcleo do FCAS. Declarações recentes do CEO da Dassault, Éric Trappier, reforçaram a tensão ao ameaçar uma retirada francesa caso a empresa não detenha o comando total das decisões sobre o caça, o que, segundo parlamentares alemães, inviabiliza um consórcio verdadeiramente cooperativo.
Dentro da comissão, a avaliação é de que novos atrasos custariam não apenas bilhões aos cofres europeus, mas também tempo precioso que deveria estar sendo investido no desenvolvimento efetivo de uma aeronave de sexta geração. Mayer-Lay citou ainda que a indústria alemã — representada por empresas como Airbus, Hensoldt, Diehl Aviation e Diehl Defense — tem plena capacidade de transferir o conhecimento do FCAS para um novo programa, caso Berlim decida mudar de direção.
E essa direção já tem nome: o Global Combat Air Programme (GCAP). O projeto liderado por Reino Unido, Itália e Japão é hoje o principal concorrente global ao FCAS e está avançando mais rapidamente em negociações industriais. Empresas como BAE Systems, Leonardo e Mitsubishi Heavy Industries já consolidaram joint ventures para motores e aviônicos, e fontes do setor afirmam que o programa tem abertura para incluir novos parceiros estratégicos — inclusive a Alemanha, caso ela manifeste interesse.
Para parlamentares alemães, aderir ao GCAP poderia colocar Berlim em um consórcio mais estável, com governança mais clara e cronogramas mais realistas. Ao mesmo tempo, seria uma forma de garantir que a Alemanha continue envolvida no desenvolvimento de um caça de sexta geração com entrega estimada antes de 2040 — algo que, no ritmo atual, o FCAS não parece capaz de garantir.
A decisão final sobre o futuro da Alemanha no FCAS deve ocorrer nas próximas semanas. Caso o governo federal confirme a retirada, isso representará um dos maiores realinhamentos estratégicos da indústria aeroespacial europeia desde o pós-Guerra Fria e poderá redefinir o mapa de alianças tecnológicas no continente.
Fonte: Cavok




































































