A Argélia tem muitos prédios modernistas, deslumbrantes.
E, pasmem! Obras do brasileiro, carioca, Oscar Niemeyer.
A Argélia do futuro, radical, moderna e confiante, se reflete nas obras de Niemeyer, que já foi até mesmo tema de livro.
Do Brasil para o mundo
Um dos mais importantes representantes da arquitetura moderna no mundo, Oscar Niemeyer nasceu em 1907 e morreu em 2012 — com quase 105 anos. Famoso internacionalmente como o homem que projetou Brasília, ele assina centenas de obras distribuídas por vários países. Entre elas, o prédio da ONU, em Nova York (que ele projetou em parceria com o suíço Le Corbusier), e o prédio do Partido Comunista Francês, em Paris.
Membro do Partido Comunista Brasileiro, o arquiteto se exilou na França após o golpe militar de 1964. Teve dificuldades para trabalhar e, segundo ele, tentaram calar sua voz, como declarou no documentário A Vida é um Sopro.
Mas, como toda mudança pode trazer novas fases e expectativas, iniciou-se então a carreira internacional de Niemeyer, que passou a receber convites de diversos países, inclusive da Argélia.
O legado argelino: tesouro esquecido
Durante uma década trabalhando para o então presidente argelino Houari Boumediènne — entre 1968 e 1978 — Niemeyer projetou duas universidades e um centro de esportes.
O campus da Universidade Constantine fica nos arredores da cidade de Constantine, a 650 km ao leste da capital, Argel. Esta foi a primeira das obras argelinas de Niemeyer.
Niemeyer construiu cerca de 600 prédios. Mas, ao contrário do que ocorreu com suas obras brasileiras ou com o prédio do Partido Comunista em Paris, por exemplo, os prédios argelinos foram pouco divulgados.
Um fator que talvez contribua para isso é a situação política no país. Na década de 1970, houve um período de relativa abertura.
Por isso, a primeira obra que o presidente da Argélia independente encomendou ao brasileiro foi a Universidade de Argel. Niemeyer também projetou o Centro Olímpico.
Os espaços eram grandes, como ele gostava, e há relatos de que os argelinos deixaram o brasileiro totalmente à vontade, tratando-o com muito respeito e admiração.
No legado de Niemeyer
No documentário de Fabiano Maciel, A Vida é um Sopro, filmado quando Niemeyer tinha 97 anos, o arquiteto comenta o fato de que, “por enquanto, só quem usa a arquitetura é quem tem dinheiro”.
Como raramente se vê na história da humanidade, na Argélia de Niemeyer a arquitetura ousada e visionária foi colocada a serviço não das elites políticas ou religiosas, mas dos estudantes.
“Niemeyer estava projetando as universidades que educariam o povo que construiria aquele país”. Estudantes da Universidade de Constantine revelaram que nunca tinham visto algo parecido.
Os espaços eram grandes, largos, e causavam uma sensação de liberdade. Era possível sentir o espaço à sua volta. Era um lugar mágico, cercado por árvores e plantas, cheio de simbolismo.
Essa história nos traz a reflexão de uma ligação amistosa entre Brasil e Argélia. Existe um legado não só de Niemeyer, mas do Brasil.
Uma história de respeito e consideração que deve ser lembrada por todos os políticos, historiadores, arquitetos, jornalistas e pela sociedade civil!
Artigo de Fabiana Ceyhan