A AMDB (Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras) emitiu nota oficial, questionando o baixo índice (12,7%) de mulheres designadas para chefiar missões diplomáticas da atual gestão do
Ministério das Relações Exteriores.
O documento faz um levantamente quantitativo da ocupação dos cargos por mulheres e lamenta a falta de mais negros e negras, LGBTQIA+ e PCDs na diplomacia brasileira. A AMDB também coloca-se à disposiação do Itamaraty para o desenvolvimento de “uma política vigorosa e inequívoca de promoção de diversidade e inclusão”.
“Nesta quarta-feira, 21 de junho, por publicação no Diário Oficial, a Diretoria da AMDB e suas associadas tomaram conhecimento da designação de mais quatro homens para ocuparem chefias de missões consulares brasileiras no exterior (Barcelona, Cantão, Buenos Aires e Tóquio). No conjunto, todas as designações até hoje tornadas públicas pela atual chefia do Itamaraty perfazem um total de 47 nomes, dos quais 41 homens e seis mulheres (conforme quadro anexo), o que representa 12,7% das indicações.
Antes do início do governo eleito em 2022, as mulheres ocupavam 14,2% das chefias de missões do Brasil no exterior. Agora, com as nomeações já tornadas públicas pela atual Administração, houve o aumento de um ponto percentual, passando as mulheres a ocuparem 15,2% das chefias de missões brasileiras no exterior.
Em Brasília, na Secretaria de Estado das Relações Exteriores, foram nomeadas três mulheres para cargos do segundo escalão (3 em 10, ou o equivalente a 30%), enquanto na gestão anterior eram duas as mulheres em posições semelhantes (2 de 7, ou o equivalente a 28,57%).
A Diretoria da AMDB vem a público manifestar sua profunda frustração com a falta de compromisso da
chefia do Ministério das Relações Exteriores (MRE) com a promoção de uma política de gênero
institucionalizada dentro da órgão, em particular no tocante à ocupação de cargos de chefia no Brasil e no exterior. Os números vão na contramão das palavras do próprio Ministro das Relações Exteriores que, em seu discurso de posse, anunciou a elaboração de uma política de diversidade e inclusão no Itamaraty e, mais especificamente, o compromisso de “ampliarmos sua presença (das mulheres) em cargos de chefia”.
Também diante da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, o Chanceler “reiterou
compromisso com a promoção da diversidade, de modo a reverter a lógica das desigualdades, reproduzida historicamente pela sociedade brasileira.” Uma política institucionalizada deve incluir a adoção de ações afirmativas, implementadas por meio de instrumentos legais e infralegais, que garantam real presença de mulheres nos cargos de liderança do Ministério. E, enquanto estas medidas não são aprovadas, deve contemplar o firme compromisso de nomear mulheres para os cargos de liderança dentro da instituição, o que, infelizmente, pelos números atingidos até o momento, não tem se confirmado.
As nomeações feitas pela atual gestão do MRE para cargos de chefia de postos no exterior e mesmo na Secretaria de Estado em Brasília traduzem nítido descompasso entre palavras e ações. Passados quase seis meses de gestão, as mulheres diplomatas seguem aguardando as medidas que revelem efetivo compromisso com a promoção da equidade de gênero e, sobretudo, respeito ao profissionalismo e à dedicação das mulheres na carreira diplomática brasileira.
Esta manifestação não desabona as qualidades profissionais dos diplomatas homens indicados. Questiona, porém, porque às diplomatas mulheres, com a mesma qualificação, não lhes são dadas as mesmas oportunidades. Registra, ainda, a preocupação da Associação com a ausência, até o momento, de sinalização firme por parte da Alta Chefia e da Administração do MRE de compromisso com a adoção de uma política de diversidade e inclusão institucionalizada, que promova mudanças concretas e que tenha metas claras não apenas para mulheres, mas também para colegas negros e negras, LGBTQIA+ e PCDs.
Por fim, a AMDB, por meio de sua Diretoria, reitera sua disponibilidade para desenvolver, juntamente com a Chefia do MRE, uma política vigorosa e inequívoca de promoção de diversidade e inclusão, procurando assim contribuir para assegurar o constante aprimoramento dos quadros e das práticas do Itamaraty e para que seu corpo de funcionários reflita a composição plural da população brasileira”.