LIVRO DA VIDA
Sinto-me no limiar da eternidade,
Onde se julga a cláusula dos tempos,
Respiro flores com décadas ao vento
E me desvendo no portal da claridade.
Encontro a terra deserta e cansada,
Sentida, mortificada, nua em pelo,
E vejo sonhos e ruínas pela estrada
Em séculos de embates e exageros.
Busquei o final do horizonte fundo,
O destino vocal do último segundo,
Escrevi, no jardim, epitáfio escuro,
Na pedra talhada, cravei meu urro.
Penso, medito, declina este dia,
Na rocha, o oceano explode arteiro;
Não é um capítulo a duração da vida,
É impulso que leva a ler o livro inteiro.