Até agora, 91 jornalistas e funcionários de mídia foram mortos ou feridos, juntamente com membros de suas famílias, nos 73 dias de guerra contra Gaza.
O que isso nos diz? Por que quase todos estão em silêncio? Seria essa uma nova realidade imposta a nós para deixar a porta aberta para que Israel desfrute de um status acima da lei?
Poucas associações de jornalistas, órgãos, instituições de mídia e ativistas políticos protestaram contra a morte desse número de jornalistas. Deveríamos, afinal, aceitar que jornalistas sejam alvo de uma campanha militar cruel contra civis em hospitais, escolas, mesquitas, igrejas, abrigos, etc.?
A mídia tem mostrado imagens de uma máquina militar brutal sem precedentes que está deliberadamente assassinando bebês prematuros, crianças, mulheres e idosos. Com esse contexto em mente, um jornalista profissional aceitaria o papel de apenas relatar parte do que está acontecendo no local e, ao relatar toda a história, ser punido?
Essa é a verdadeira mensagem a transmitir ao mundo ao nosso redor?
Não deveríamos pensar em um papel diferente a desempenhar em um quadro mais amplo de responsabilidade humana, bem como uma responsabilidade política influente da comunidade internacional?
Existe uma maneira de interromper a brutalidade, o desafio à lei internacional, à lei humanitária e à legitimidade da ONU?
Não deveríamos todos – governos, políticos, parlamentares, acadêmicos, jornalistas, todos na sociedade – fazer parte da comunidade internacional mais ampla para manifestar nossos valores humanos compartilhados e sentimentos contra o direcionamento de inocentes? Não deveríamos nos solidarizar com um bebê que perdeu a mãe, o pai e todos os membros de sua família?
Não deveríamos compartilhar sentimento de injustiça com alguém que teve que deixar sua pátria à força por pretextos ideológicos que escondem implicitamente e explicitamente motivos políticos e coloniais?
Isso não é um apelo à justiça, afinal, a justiça não é alcançável na terra, como todos sabemos. É apenas um apelo honesto para interromper a agressão contínua por 73 dias consecutivos, visando cerca de 20 mil vidas inocentes, incluindo jornalistas que têm a responsabilidade de relatar a verdade, toda a verdade, no chamado “campo de batalha”. É pela primeira vez na história da guerra que residências, hospitais, abrigos, acampamentos de tendas, escolas, mesquitas, igrejas e outras instalações civis são bombardeadas.
Um apelo honesto e sincero deve surgir combinado com uma ação para conter a onda de ódio, vingança e brutalidade. Já passou da hora de todos nós, no nível da comunidade internacional, articular nossos sentimentos humanos sinceros, virtudes e valores decentes em uma posição tangível; para rejeitar a ocupação em todas as suas formas e implicações.
Trata-se da única maneira possível de sair da série horrenda de notícias de derramamento de sangue que temos assistido, relatado e analisado por mais de 75 anos. Já é a hora da lógica prevalecer, a hora de todos nós superarmos o dilema da dor, da miséria e, relativamente, da injustiça, para remodelar o futuro da região com alguns brotos de paz e prosperidade.
Dizem que “a primeira vítima da guerra é a verdade”… então, vamos estender uma mão amiga à vítima que conhecemos bem.