Elias Jabbour, professor associado da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ. Presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos.
O mundo tem passado por transformações que desafiam as nações a se reinventarem com a intenção de buscar soluções aos desafios que a contemporaneidade tem imposto. Crise climática, rompimento das cadeias globais do valor, tendência ao protecionismo, nova rodada de sanções e bullying tecnológico e financeiro contra o Sul Global, endividamentos interno e externo de países pobres etc. A lista é longa e ainda inclui uma nova rodada de revoluções na técnica e na ciência que colocam em outro patamar a interação entre ser humano e natureza, redundando em maior capacidade humana de domínio sobre seu próprio destino.
Mas o mundo é tão desafiador, quanto grande e multicolorido. A despeito da propalada sobre o fim da centralidadade do papel dos Estados nacionais e de uma dita globalização iria colocar em questão a própria categoria de nação, o fato é que a história demonstra que problemas globais demandam ação coordenadas entre países e o casamento entre distintos projetos nacionais que vão além de mandatos, governos e eleições. É nesse contexto que as relações o Brasil e a China deve ir além e estar acima de qualquer circunstância. A elevação da parceria, já até então estratégica, entre as duas nações ao grau de “Comunidade de Futuro Compartilhado Brasil – China” é uma demonstração no mais alto nível da compreensão sobre o papel dos dois países no mundo de hoje.
Não somos somente parceiros comerciais. Somos países que compartilham convergência de opinião no que é fundamental ao enfrentamento dos problemas que assolam a humanidade. Ainda é correta a elaboração de Deng Xiaoping sobre “a paz e o desenvolvimento como os dois grandes desafios de nossa época histórica”. Essa alusão, nascida na esteira das turbulências que levaram ao fim a URSS e as primeiras experiências socialistas, é uma antecipação aos dilemas que viriam a ser amplificadas com a crise financeira de 2007/2008 e a pandemia do Covid-19.
É com esse espírito de “ir além das circunstâncias” que Brasil e China tem papel central a cumprir para que os anseios mais gerais e caros de toda humanidade acabem que prevalecendo sobre noções de ordem racista segundo o qual o mundo é formado por um “povo eleito” com prerrogativas sobre o destino de toda a esmagadora maioria dos povos.