OBSTINADO
Encontro em mim o que não quero,
Chuva, vento, tosse, obrigações;
Mesmo em meio aos tubarões,
Nada do que anseio a mais espero.
Floresce a vida por entre a aurora,
Míngua a água na fonte sortida,
Sobre a escarpa me atinge a brisa,
No barco sem vela deslizo na rota.
Estranho pulsar do poema demente,
Estou a boiar onde a lira é purista,
Na beira da onda a sintaxe é de artista,
Teimoso é o manejo do verbo inclemente.
Para onde me vou, esqueço até a alma,
Poeta, se o sou, envio-me às favas;
Atrás dessas moitas, as feras amargas
Aspiram botim, não o aroma da mata.
Varou-me no peito o assombro calado,
No escombro fui rei do jardim encantado;
A mágoa dormiu em silêncio velado,
Deixando-me a lua no verso obstinado.