A disputa por uma pequena ilha no rio Amazonas, na fronteira com o Brasil, levou os governos da Colômbia e do Peru a mobilizar tropas para a região nos últimos dias.
O Itamararty e o Ministério da Defesa do Brasil acompanham o aumento da tensão, mas ainda não se manifestaram publicamente.
Colômbia e Peru mantêm uma disputa histórica sobre a linha de fronteira no rio Amazonas, que muda seu leito com frequência e cria novas ilhas.
O governo colombiano defende que a Ilha Santa Rosa, onde moram cerca de 3 mil pessoas, está em seu território e que seus habitantes são peruanos.
Em junho, o Peru oficializou a criação de um novo distrito em Santa Rosa, com envio de funcionários públicos. A Colômbia protestou e exigiu uma negociação bilateral.
Em nota, a Chancelaria da Colômbia argumentou que a ilha surgiu naturalmente após a assinatura do acordo de 1929, e que sua destinação deve ser debatida entre os países.
Já o Ministério das Relações Exteriores do Peru rebateu as acusações, afirmando que exerce soberania “de forma legítima e legal, pública e contínua há mais de um século” sobre o território.
O governo peruano sustenta que Santa Rosa está situada na Ilha Chinería, atribuída ao país em 1929 pela Comissão Mista Demarcadora.
Fundada na década de 1970, a região é administrada por Lima e recebe serviços públicos do Estado, apesar de enfrentar carência de infraestrutura básica e abandono, mesmo com potencial turístico.
Região tem constantes mudanças geográficas
A região que fica cercada pelo rio Amazonas foi afetada pela diminuição do fluxo do rio nos últimos anos, o que provocou mudanças geográficas e aproximou a Ilha Santa Rosa da margem colombiana, onde está a cidade de Letícia.
A Ilha de Santa Rosa surgiu a partir de uma sedimentação do Amazonas dentro da área peruana do rio, seguindo a divisão da área feita há quase cem anos. Segundo um tratado bilateral, a divisão territorial é estabelecida no ponto mais profundo do rio.
A tensão diplomática pelo território começou em 2024, por conta das mudanças no fluxo que ameaçam deixar Leticia, importante porto comercial colombiano, sem saída direta para o rio, devido à redução do leito do Amazonas.
Estudos de institutos do Peru e da Colômbia indicam que, até 2030, o curso do rio Amazonas pode se desviar exclusivamente para o lado peruano, deixando Letícia sem acesso direto ao rio.
Petro diz que levará caso à Justiça internacional
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, usou a disputa territorial para transferir as celebrações da independência da Colômbia, de 7 de agosto, da capital, Bogotá, para Letícia.
Durante ato pela independência colombiana, em Letícia, na última quinta-feira (7/8), Gustavo Petro negou que o Peru tenha jurisdição sobre a ilha.
“A Colômbia não reconhece a soberania do Peru sobre a chamada ilha de Santa Rosa e desconhece as autoridades de fato impostas na região”, afirmou Petro.
Ele disse ainda que levará o caso à Justiça internacional se o Peru não concordar com a mediação. Mas a maioria dos habitantes de Santa Rosa é peruana e defende a ilha como tal.
No mesmo dia, o primeiro-ministro do Peru, Eduardo Arana, e parte de seu gabinete visitaram a região. A imprensa peruana ainda relatou um suposto sobrevoo de aviões militares colombianos em espaço aéreo do Peru.
Militares peruanos foram deslocados para a Ilha Santa Rosa e hastearam dezenas de bandeiras do país. As Forças Armadas colombianas aumentaram seu efetivo em Letícia.
“Nossa Ilha Chinería está dentro da nossa soberania nacional, portanto não há nada pendente a tratar com nosso país irmão do norte”, disse a presidente do Peru, Dina Boluarte, em visita oficial no Japão.
As relações entre Peru e Colômbia já estavam abaladas desde 2022, quando o então presidente peruano, Pedro Castillo, foi destituído.
Petro classificou a ação como “golpe de Estado” e retirou o embaixador colombiano de Lima. O Peru respondeu na mesma medida, e desde então a diplomacia entre os dois países é conduzida apenas por encarregados de negócios.