BRICS se prepara para lançar uma plataforma de pagamentos inédita que promete integrar sistemas nacionais como o Pix, reduzir a dependência do dólar e facilitar transações diretas entre moedas locais, ampliando o comércio e a cooperação internacional.
O BRICS planeja colocar em operação, ainda em setembro de 2025, o Brics Pay, uma plataforma de pagamentos pensada para permitir transferências entre países do bloco diretamente em moedas locais, sem passar pelo dólar.
O projeto usa como base o DCMS, um modelo descentralizado de mensagens financeiras desenvolvido pela Universidade de São Petersburgo, e promete operar com infraestrutura distinta do SWIFT.
Como funcionaria o Brics Pay
Segundo seus desenvolvedores, a proposta é criar um “hub” de mensagens que conecte sistemas nacionais de pagamento de cada país, com roteamento automático e criptografia ponta a ponta.
Em vez de uma câmara central, a rede opera por nós distribuídos, o que, em tese, reduz pontos únicos de controle e falhas.
A Universidade de São Petersburgo descreve o DCMS como uma solução voltada ao intercâmbio de mensagens financeiras entre bancos e reguladores de diferentes jurisdições.
A plataforma reuniria tecnologias já existentes.
Entre elas está o SBP, sistema russo de pagamentos instantâneos que permite transferências usando o número de telefone e hoje conta com mais de 200 bancos conectados.
O mecanismo opera 24 horas por dia e é usado para transferências entre pessoas e pagamentos a comerciantes por QR Code.
No Brasil, a expectativa é de interoperabilidade com o Pix.
Materiais do projeto indicam a intenção de cooperar com sistemas nacionais e “construir pontes” entre arranjos domésticos e transfronteiriços.
Autoridades e veículos especializados têm mencionado a possibilidade de integração com plataformas como Pix, UPI (Índia) e PayShap (África do Sul), mas a conexão técnica e operacional com o Pix ainda não foi formalmente detalhada.
O que muda nas remessas e no comércio
A principal promessa é reduzir custos e prazos de transferências internacionais dentro do bloco.
Em vez de converter moedas locais para dólar e depois para a moeda de destino, as operações seriam liquidadas diretamente nas divisas de cada país, com câmbio local e trilhas de conformidade definidas por cada regulador.
Em declarações públicas, autoridades de Rússia, Índia e Brasil têm afirmado que a prioridade é ampliar o uso de moedas nacionais e tornar os pagamentos transfronteiriços mais ágeis.
O economista Adenauer Rockenmeyer, delegado do Corecon-SP, avalia que o modelo pode fortalecer o uso internacional do Pix e ampliar as trocas intrabloco.
Para ele, a iniciativa representa um desafio à supremacia do dólar: “O sistema opera com infraestrutura independente do SWIFT, baseada em tecnologia descentralizada, o que dificulta o controle e a aplicação de sanções. Cada transação fora do sistema tradicional reduz a influência do dólar no comércio internacional”, afirmou.
Lançamento e escopo: o que já está confirmado
O cronograma de lançamento em setembro de 2025 tem sido mencionado por representantes ligados ao projeto e por publicações do setor, embora os países do BRICS não tenham divulgado, até agora, um comunicado técnico conjunto com regras, adesões e prazos detalhados.
Em 2024, por exemplo, o presidente russo Vladimir Putin disse que o grupo, naquele momento, não criaria um sistema totalmente novo alternativo ao SWIFT, e sim usaria a infraestrutura já existente dos bancos centrais do bloco — sinal de que a estratégia pode combinar plataformas domésticas com novas camadas de mensageria.
Para a operação ganhar escala, o Brics Pay precisará homologar integrações com bancos, arranjos locais e carteiras em cada país, além de endereçar padrões de compliance, prevenção à lavagem de dinheiro e cibersegurança.
O desenho distribuído do DCMS prevê criptografia e controle de dados por jurisdição, mas a implementação concreta dependerá de acordos regulatórios bilaterais e multilaterais.
Pix “fora de casa”: o que significaria para o usuário
Caso a integração se materialize, consumidores e empresas brasileiros poderiam iniciar pagamentos no exterior a partir de chaves Pix ou QR Codes compatíveis.
A cobrança e conversão em reais ocorreria na origem, com liquidação na moeda do país de destino.
A experiência seria semelhante a um Pix doméstico, mas com taxas e câmbio definidos pelo provedor e pelo arranjo local parceiro, sob supervisão dos reguladores envolvidos.
Por ora, trata-se de um objetivo declarado do projeto, ainda sem manual público de interoperabilidade com o Pix.
Impactos geopolíticos e limites do projeto
A agenda de “desdolarização” tem motivado soluções que reduzam a necessidade de dólares no comércio.
Especialistas ponderam, no entanto, que a infraestrutura é apenas uma parte do problema.
A aceitação de moedas locais por exportadores, a disponibilidade de liquidez e o gerenciamento de riscos cambiais continuam sendo condicionantes centrais.
Em paralelo, membros do BRICS relatam avanços no uso de moedas nacionais e na construção de arranjos de pagamentos cruzados, ainda que nem todos os detalhes sejam públicos.
China inaugura ponte com maior vão estaiado do mundo
Em 9 de setembro de 2025, a China inaugurou a ponte Changzhou–Taizhou (também chamada Changtai), que cruza o rio Yangtzé na província de Jiangsu.
A obra tem 10,3 quilômetros de extensão e um vão principal de 1.208 metros, o maior entre as pontes estaiadas já abertas ao tráfego.
O projeto conecta rodovia, via urbana e ferrovia intermunicipal em dois níveis, reduzindo o tempo de viagem entre Changzhou e Taizhou de cerca de 80 para 20 minutos.
Além do recorde de vão livre, a estrutura foi concebida para integrar o transporte no delta do Yangtzé e apoiar corredores logísticos regionais.
Relatos da imprensa chinesa e internacional destacam que a construção levou aproximadamente seis anos, com conclusão em 2025, e empregou soluções de engenharia de grande porte para cabos, tabuleiros metálicos e monitoramento estrutural.
Com a possibilidade de o Pix ganhar alcance internacional via Brics Pay e a China estreando um novo marco de infraestrutura, uma questão permanece: que outros movimentos de integração econômica e tecnológica o BRICS colocará em prática nos próximos meses?
Fonte: Click Petroleoegas