Texto por Carolina Fernandes, Lemos Bonin, Ana Vieira Pereira e Giovanna Vial á Flotilha da Liberdade
Na madrugada desta segunda-feira, 9 de junho, o veleiro Madleen — embarcação civil que transportava alimentos, fórmulas infantis, suprimentos médicos, muletas e próteses — foi interceptado e abordado pelas Forças de Ocupação de Israel em plena navegação em águas internacionais (coord. 31.95236° N, 32.38880°E), a quase 100 milhas náuticas da costa de Gaza. A ação ocorreu por volta das 3h02 (CET) e resultou na detenção dos 11 voluntários e um jornalista a bordo, entre eles o ativista brasileiro Thiago Ávila, a sueca Greta Thunberg, a parlamentar européia Rima Hassan e outros integrantes da Coalizão Flotilha da Liberdade (FFC).
A bordo, não havia armas, mas esperança. Não havia ameaças, mas compromisso com a paz. O objetivo era simples e profundamente simbólico: levar ajuda humanitária diretamente à população sitiada de Gaza, rompendo pacificamente o bloqueio que já matou mais de 36 mil pessoas, sendo a maioria mulheres e crianças. Os ativistas a bordo passaram por intenso treinamento de protocolos de não-violência, conscientes dos riscos de possíveis ataques, sequestro e prisão, com o objetivo de manutenção da sua segurança e da paz.
A viagem da Flotilha representa algo maior do que um protesto: é um gesto de solidariedade ativa e ação humanitária direta, como resposta à omissão internacional diante do sofrimento palestino. O ato de interceptar essa embarcação pacífica é, como afirmou a advogada Huwaida Arraf, “uma violação flagrante do direito internacional” e um atentado à própria possibilidade de esperança.
A cada barco silenciado, a cada gesto pacífico reprimido e brutalizado, fortalece-se a urgência de que a comunidade internacional — e cada cidadão — não se omita. Como disse Tan Safi, que também organiza a coalizão, “toda hora que passa sem consequências empodera Israel para escalar seus ataques a civis, trabalhadores humanitários e às próprias fundações do direito internacional”.
A embarcação Madleen não leva apenas mantimentos. Leva, também, o que restou de humanidade em tempos de barbárie. Representa aqueles que se recusam a aceitar o sofrimento como norma. Aqueles que, ao invés de se calarem, fazem do corpo um escudo contra as atrocidades. E esse gesto exige resposta.
Exigimos:
● O fim imediato do bloqueio ilegal à Faixa de Gaza;
● A libertação de todos os voluntários sequestrados ainda hoje;
● O acesso irrestrito de ajuda humanitária internacional, sem mediação do poder
ocupante;
● A responsabilização plena pelos ataques às embarcações Madleen e Conscience,
que feriram civis e violaram tratados internacionais.
Paz não é passividade. É construção feita de coragem, verdade e compromisso. Cada pessoa que lê estas linhas é invocada a estar — de alma pacífica e corpo presente — ao lado dos que sofrem, exigindo que governos, embaixadas, organizações multilaterais e meios de comunicação não permaneçam cúmplices. Porque o silêncio, hoje, é cúmplice.
Esse não é apenas um pedido. É um chamado. A soltura dos ativistas ainda hoje é urgente, mas é apenas o começo. É tempo de colocar fim às guerras, aos cercos, aos genocídios. E isso começa com atos conscientes, posicionamentos claros, e a firme recusa de que a indiferença seja a norma.
“Um dia, quando for seguro, quando não houver desvantagem pessoal em chamar uma coisa do que ela é, quando for tarde demais para responsabilizar qualquer um, todo mundo vai ter sido contra isso’’ – Omar El Akkad, jornalista.
Navegaremos de novo. E não pararemos até que o cerco acabe — e a Palestina seja livre. Este texto foi escrito por Carolina Fernandes Lemos Bonin, Ana Vieira Pereira e Giovanna Vial junto à Flotilha da Liberdade. Imagens por Tan Safi da Coalizão Freedom Flotilla (Freedom Flotilla Coalition) sem direito de distribuição, monetização ou venda em outros canais.
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