O governo quer aproveitar a cúpula do BRICS+, sob o comando do Brasil neste ano, para alinhar interesses e evitar impasses na COP30 de Belém.
O governo federal segue costurando sua estratégia diplomática para garantir o sucesso da próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em Belém (PA) em novembro deste ano. Uma das ideias em discussão é repetir a estratégia bem-sucedida aplicada no ano passado com a presidência brasileira do G20, dessa vez com o BRICS+, bloco que reúne as economias emergentes globais, e incluir a questão climática na agenda de negociação.
De acordo com a Folha, o governo brasileiro prevê a realização de atividades dentro do BRICS+ em busca de “soluções colaborativas” no combate ao aquecimento global, com vistas a facilitar as negociações referentes ao tema na COP30. Essa estratégia repete a abordagem adotada no G20 no ano passado, a qual, na visão de interlocutores do governo, permitiu que as discussões sobre financiamento climático na COP29 de Baku (Azerbaijão) chegassem a um acordo.
“Os países do BRICS representam diversos ecossistemas e climas e estão coletivamente em uma posição única para oferecer soluções para esses problemas”, destacou um dos documentos analisados pela reportagem. O texto ainda prevê a estipulação de metas ambientais dentro do grupo, com uma declaração ministerial conjunta, um programa e um cronograma para implementação de políticas públicas.
Em conversa com o Valor, o embaixador Eduardo Saboia, negociador (“sherpa”) do Brasil no BRICS+, concordou que o bloco pode ter efeitos sobre as negociações da COP30. Para ele, o grupo tem escala, massa crítica e força própria para lidar com esse desafio.
“[Na cúpula do BRICS] há uma oportunidade de construir entendimentos que ajudem e facilitem a questão de financiamentos. Não estou falando de uma solução dentro do BRICS para a mudança do clima, mas com esse conjunto de países pode-se começar a trabalhar no que seria uma proposta para a COP30”, destacou Saboia.
Um obstáculo nessa estratégia é a própria composição do BRICS+, ampliado nos últimos anos para além dos países originais (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O grupo inclui hoje outros cinco integrantes – Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia, Indonésia e Irã. Além das assimetrias políticas e econômicas dentro do bloco, a presença no grupo de interesses favoráveis à indústria de combustíveis fósseis dificulta discussões sobre uma transição energética efetiva.
Fonte: ClimaInfo