Quatro importantes países anunciaram ontem, de forma oficial, o reconhecimento do Estado da Palestina: Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal, precedidos pela França e por diversos outros Estados. Nunca é tarde para que se faça justiça; chegar depois é sempre preferível a não chegar.
Por que este reconhecimento, neste momento particularmente crítico, é tão relevante? O que ele representa?
Em primeiro lugar, recorda-nos — a nós, Estados Árabes, em especial — a trajetória firme e coerente da diplomacia da República Federativa do Brasil. O reconhecimento ora anunciado remete-nos a novembro de 1947, quando Oswaldo Aranha, então Ministro das Relações Exteriores do Brasil, presidiu a sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas que aprovou a Resolução nº 149, estabelecendo a solução de dois Estados para a Palestina.
Tal resolução constituiu — e continua a constituir — reflexo fiel da tradição diplomática brasileira, fundada no pleno respeito ao direito internacional e à legitimidade das Nações Unidas, sempre privilegiando os meios políticos e pacíficos para a solução de conflitos em todas as partes do mundo.
Em segundo lugar, o impulso que vem sendo dado ao reconhecimento da solução de dois Estados representa uma mensagem clara da comunidade internacional: chegou o momento de trabalhar pela paz e de pôr fim às guerras em todos os lugares. O reconhecimento traduz a necessidade de ações concretas; declarações, comunicados e até mesmo resoluções, por si só, jamais foram suficientes para alcançar o objetivo e, em última análise, não conduzirão à paz tão aguardada neste momento decisivo.
Cabe, portanto, a todos nós — como comunidade internacional — assumir nossa responsabilidade e participar ativamente das medidas que se fazem necessárias e de sua efetiva implementação.
Trata-se de um caminho que beneficia todas as partes envolvidas, um caminho que beneficia a humanidade em seu conjunto. É a única via capaz de romper o ciclo de violência que nos assola há décadas, de deter o derramamento de sangue e de abrir espaço para uma nova trajetória — uma trajetória que conduza à paz, à estabilidade e à prosperidade, não apenas no Oriente Médio, mas em todo o mundo.
Embaixador Qais Shqair
Chefe da Missão da Liga dos Estados Árabes no Brasil
22 dde setembro de 2025.