O rio Amazonas atingiu seu nível mais baixo em pelo menos 120 anos. A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, e as 30 milhões de pessoas que dependem de seus rios estão ameaçadas, seja no Brasil, no Peru, Colômbia, Venezuela, Equador ou Bolívia.
No final do ano passado, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil estimou que a seca severa se devia ao início do fenômeno climático El Niño, que causa condições climáticas extremas em todo o mundo.
O fenômeno, que consiste em um aquecimento de parte do oceano, geralmente resulta em um aumento das temperaturas globais e aumenta o risco de eventos climáticos extremos em muitas regiões.
“Ciência da atribuição”
Entretanto, um estudo publicado esta semana por especialistas em ciência da atribuição, contradiz essa teoria. A chamada ciência da atribuição é usada para determinar até que ponto um desastre climático se deve ao aquecimento global e, de acordo com os pesquisadores da World Weather Attribution, a seca excepcional que afeta toda a Amazônia “se deve em grande parte às mudanças climáticas”.
Os cientistas do Brasil, da Holanda, da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos compilaram dados sobre a falta de chuvas e a evapotranspiração, ou seja, toda a água que evapora do solo, dos rios e dos lagos e da vegetação sob o efeito do calor e do sol.
O resultado é que a falta de chuva é causada metade pelo fenômeno El Niño, e metade pela mudança climática. Só que “o aquecimento global é quase totalmente responsável pelo fenômeno da evaporação e o ressecamento”, de acordo com o estudo.
O relatório também contradiz a retórica do “terrorismo climático” que tenta minimizar o impacto das mudanças climáticas e, portanto, a responsabilidade do homem pelo desastre.
Mais pobres pagam a conta
E, como sempre acontece, são “os pequenos proprietários, as comunidades indígenas e os mais pobres” que estão pagando o preço mais alto, observam os pesquisadores, que também acreditam que “a exposição aos impactos da seca foi exacerbada por práticas históricas de gestão de terra, água e energia, em especial o uso de combustíveis fósseis. Isso inclui desmatamento, destruição da vegetação, incêndios, queima de biomassa, agricultura industrial, criação de gado e outros problemas socio-climáticos, todos os quais reduziram a capacidade da terra de reter água e umidade”.
Além do tráfego nos rios da Amazônia e da agricultura, a geração de eletricidade também é afetada pela seca. “O vasto sistema fluvial fornece uma proporção significativa da energia nos países afetados”, observam os pesquisadores. O Brasil depende de hidrelétricas para 80% de sua eletricidade, a Colômbia 79%, a Venezuela 68%, o Equador e o Peru 55% e a Bolívia 32%, de acordo com a USAids. Isso levou a cortes de energia já em junho do ano passado nas regiões afetadas.
Animais da floresta tropical em perigo
Os seres humanos não são os únicos a sofrer com essa terrível seca. Toda a flora e fauna do incrível ecossistema de biodiversidade que é a Amazônia foram afetadas. A maior floresta tropical do mundo também desempenha um papel fundamental no ciclo global da água e do carbono.
Uma das conclusões do estudo é, portanto, a necessidade de fortalecer os planos contra a seca implementados pelos governos, com “sistemas de alerta antecipado” para instituições e para o público, “planos de emergência em caso de seca severa, práticas sustentáveis de gerenciamento de água e investimento em infraestrutura resiliente para atender às necessidades futuras”.
Mas os cientistas também alertam: “a menos que o mundo interrompa rapidamente o consumo de combustíveis fósseis e o desmatamento, esses eventos se tornarão ainda mais frequentes no futuro”.
As informações são da RFI.