O Brasil está complicando os planos da Opep. Após um impressionante colapso na produção do país, a retomada recente promete atrapalhar os esforços da Organização dos Países Exportadores de Petróleo para controlar de perto os suprimentos e os preços globais.
A produção diária de petróleo bruto no Brasil começou o ano em 3,73 milhões de barris, depois despencou quase 25% enquanto trabalhadores realizavam reparos e substituíam equipamentos desgastados em gigantescas plataformas offshore.
Agora, mais de um terço do déficit foi recuperado, trazendo implicações de longo alcance para a maior economia da América Latina e para os mercados de energia mundiais. Todo esse petróleo adicional dificultará os esforços da Opep para aumentar os preços por meio de cortes na produção.
Os enormes reservatórios de petróleo offshore do Brasil, assim como o xisto dos EUA, são uma constante dor de cabeça para a Opep e sua hegemonia sobre os balanços globais de petróleo. A recente decisão surpresa do cartel e seus aliados de relaxar alguns controles sobre as exportações de petróleo pode se voltar contra eles caso a recuperação brasileira se mostre muito robusta.
A Petrobras está antecipando a data de início de uma embarcação de 100 mil barris por dia para o quarto trimestre de 2024, disse a estatal no dia 19 de junho.
O Brasil tem buscado fortalecer os laços com a Opep e seus aliados sob o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao mesmo tempo em que evita compromissos de restringir a produção através do sistema de cotas. No ano passado, o Brasil anunciou que estava aderindo a uma carta de cooperação com a aliança Opep+ que proporciona uma plataforma para o diálogo entre os países produtores.
Os campos brasileiros podem, na verdade, superar a cifra pré-colapso em cerca de 200 mil barris por dia este ano, à medida que o trabalho de manutenção termina e dois novos desenvolvimentos offshore entram em operação, de acordo com a consultoria Wood Mackenzie.
“Mais poços serão conectados e começarão a produzir”, escreveu a Wood Mackenzie em um e-mail. “Acreditamos que é muito cedo para dizer que a produção irá desapontar.”
Já a Welligence – outra empresa de inteligência de mercado – está mais cautelosa, prevendo uma produção diária de 3,4 milhões a 3,5 milhões de barris para o restante deste ano. O crescimento da produção brasileira não retomará o ritmo acelerado de 2023 até a segunda metade de 2025, com a chegada de quatro novas instalações offshore, disse André Fagundes, que cobre o Brasil para a consultoria de energia e anteriormente trabalhou para a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A Petrobras e outras empresas perfuradoras de petróleo enfrentam múltiplos desafios. O Ibama está em greve e parece que o impasse sobre os salários só vai piorar. Isso atrasou a concessão de licenças para novos equipamentos de produção e trabalhos relacionados. A greve já reduziu 80 mil barris da produção diária, segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo.
E há também o campo de Tupi, joia da coroa do Brasil, onde a produção de petróleo atingiu o pico há vários anos e continua a diminuir. A Petrobras precisa negociar com a ANP para estender a licença de operação antes de poder se comprometer a investir bilhões em um programa de recuperação para conter o declínio.
Durante uma teleconferência com analistas em maio, a Petrobras atribuiu os contratempos de produção à chamada manutenção planejada e disse que espera retornar gradualmente aos níveis anteriores. A empresa não respondeu a um pedido de comentário para esta reportagem.