Professor Edélcio Américo é diretor executivo do Fórum de Amizade Brasil- Cazaquistão
1. O Senhor poderia nos contar um pouco, por favor, sobre a nova sociedade de amizade que o Senhor representa?
O Fórum de Amizade Cazaquistão-Brasil foi criado este ano por iniciativa da Embaixada do Cazaquistão no Brasil. É uma organização pública, sem fins lucrativos, que irá promover o desenvolvimento e aprofundamento do intercâmbio cultural entre os dois países, reforçando os contatos acadêmicos, científicos e sociais.
Tendo em conta a enorme distância entre os dois países e o fato de o Cazaquistão ainda não estar suficientemente representado no campo informativo do Brasil, bem como o Brasil no Cazaquistão, o nosso Fórum contribuirá para o melhor reconhecimento mútuo dos nossos países. Isto diz respeito principalmente à cultura, história, línguas e, claro, à juventude.
Conheço o Cazaquistão há muito tempo, aprecio a identidade cultural do povo cazaque e espero contribuir para a expansão de nosso diálogo cultural.
2. Sabemos que a direção do Fórum é composta por representantes do Brasil, que conhecem um pouco o Cazaquistão?
Sim, estruturalmente o nosso Fórum é composto por um Conselho de Administração, do qual eu sou membro, e um Conselho de Curadores. O Presidente é um conhecido político brasileiro, o fundador da organização pública “União Planetária do Brasil”, o ex-senador Ulisses Riedel, que coopera com o Cazaquistão há muitos anos, já tendo visitado este país muitas vezes. O Vice-Presidente da Sociedade é o Chefe da Câmara de Comércio e Indústria “Brasil – Cazaquistão”. Cassiano Pereira Viana. Uma pessoa muito ativa no domínio do comércio e das relações económicas e tem vastas ligações na comunidade empresarial do Cazaquistão.
Os Embaixadores em exercício em nossos dois países Bolat Nussupov e Ruben Antonio Correa Barbosa, os Cônsules Honorários do Cazaquistão no Rio de Janeiro Aloysio Maria Teixeira Filho e em Santa Catarina Altamir Osni Teixeira juntaram-se ao Conselho de Curadores, bem como Fabiana Ceyhan, Presidente da Associação Brasileira de Jornalistas Abrajinter, e Welber Barral, chefe da empresa de consultoria Barral Parente Pinheiro que, aliás, trabalhou anteriormente na secretaria do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil e esteve diretamente envolvido na abertura da Embaixada do Brasil no Cazaquistão.
Como podem ver, o nosso Fórum é constituído por pessoas que conhecem bem o Cazaquistão e podem dar a sua própria contribuição para o fortalecimento das nossas relações.
3. Que atividades o Fórum planeja realizar no Brasil? Há planos e projectos conjuntos?
Sim, claro, os eventosconstituem a principal atividade da nossa Sociedade. Por exemplo, em agosto, no âmbito do Fórum, realizamos uma conferência científica internacional dedicada ao Dia da Capital do Cazaquistão: “Nur-Sultan – a Pérola da Eurásia, a Capital do Cazaquistão Independente”, na Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro.
Também, por ocasião do 150º aniversário do extraordinário estadista e figura pública, fundador do alfabeto cazaque, Akhmet Baitursynuly, realizamos a conferência científica “Língua e literatura cazaque: interesse e reações no Brasil”, durante a qual assinamos um acordo para o oferecimento de cursos de língua e cultura cazaque no Centro de Estudos Asiáticos da Universidade Federal de Fluminense.
Sob os auspícios do Fórum, iniciámos cursos online de língua e cultura cazaque. As aulas têm sido muito interessantes!
Em Novembro deste ano planejamos publicar o primeiro volume do livro “Os nômades” em português, sobre a história do povo cazaque e fazer o lançamento do livro com uma projeção cinematográfica em conjunto com a Biblioteca Nacional de Brasília.
Além disso, há um projeto para a instalação de um busto de Abay, em um parque na cidade do Rio de Janeiro. Este projeto conta com a colaboração da Embaixada do Cazaquistão. Abay é um grande poeta e pensador cazaque, altamente reverenciado no Cazaquistão. Me parece que um monumento a Abay na cidade mais conhecida do Brasil permitirá ao público brasileiro conhecer mais sobre o Cazaquistão, sua história e o seu património.
4. Voltando aos cursos online de língua e cultura cazaque. Este será o primeiro projeto deste tipo, dado que pouco se sabe sobre o país e a região em geral no Brasil?
Sim, de fato, este é um projeto único, a propósito, o primeiro na América do Sul. Mas devo dizer que mesmo na ausência de uma ampla informação sobre o Cazaquistão no Brasil, muitos dos nossos compatriotas têm demonstrado interesse pelo curso.
No dia primeiro de Setembro, tivemos a nossa primeira aula, cujo tema foi “Introdução à Cultura e Língua Cazaque”. Na ocasião, contamos com a presença de 15 estudantes de diferentes partes do Brasil, que assistiram à aula e puderam aprender mais sobre o Cazaquistão e sobre o programa do curso.
Na verdade, a ideia é atingirmos muito mais alunos. Globalmente, o nosso curso online é um projeto-piloto. Espero que possamos colocar essa cooperação em uma base governamental no futuro. A Embaixada do Cazaquistão pretende apresentar este projeto ao seu Ministério da Cultura e Educação.
5. O Senhor foi condecorado com uma elevada honraria do governo do Cazaquistão – a Ordem da Amizade. Este é um grande reconhecimento pelos seus serviços a este país. O senhor poderia nos falar mais sobre isso?
Primeiramente, gostaria de dizer que tive a honra de traduzir para o português o livro de Abay “O livro das palavras”. Sou também o autor da tradução para português de dois livros do Primeiro Presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, “Era da Independência” e “O Caminho Cazaque”, para os quais participei, como moderador, nos respectivos lançamentos. Acabei de concluir a tradução do primeiro livro da trilogia “Os Nômades” de Ilyas Essenberlin.
O processo de tradução de autores cazaques fez com que eu me sentisse absolutamente absorvido pelos acontecimentos e pelo espírito desses anos; à partir de então, comecei a compreender melhor o povo cazaque, a sua mentalidade e os seus valores. Especialmente as obras de Abay me impressionaram muito. Isso respondendo sobre a parte do trabalho criativo.
Em relação ao meu trabalho profissional e especializado, relacionado com o Cazaquistão, dado o meu conhecimento sobre o país, participei em quase todas as conferências, mesas redondas e seminários sobre o Cazaquistão e as relações Cazaquistão-Brasil.
Sou muito grato ao Governo do Cazaquistão pelo reconhecimento do meu trabalho que tem por objetivo fortalecer a amizade e a compreensão mútua entre o Brasil e o Cazaquistão. Naturalmente, a honraria recebida do Cazaquistão serve como um grande incentivo para os trabalhos futuros.
6. Como especialista, o que o Senhor poderia nos contar sobre o Cazaquistão, o seu povo e a sua cultura?
Antes de mais nada, o Cazaquistão é um país pacífico, multi-étnico e multicultural, onde representantes de cerca de 130 nacionalidades, representando cerca de 12 religiões, vivem em paz e harmonia. Penso que isto pode ser uma espécie de cartão de visita para este país. Não é por acaso que é na capital do Cazaquistão que se realizam os Congressos das Religiões Mundiais e Tradicionais. A propósito, este ano, o Congresso contou com a presença da Presidente da “União Planetária”, Sra. Isis Maria Borges de Resende. Como é do conhecimento de muitos, o Cazaquistão já foi visitado por dois líderes da Igreja Católica – o Papa João Paulo II, em 2001, e este ano pelo Papa Francisco, que de certa forma abençoou o país e os seus cidadãos com as suas visitas.
Em segundo lugar, o Cazaquistão tem uma história muito rica. Desde os tempos dos antigos citas, sármatas, hunos, turcos, os mongóis, até à formação do primeiro canato cazaque, há 550 anos atrás. Além disso, o Cazaquistão fez parte do Império russo, da União Soviética, e, em 1991, o país proclamou a sua soberania. É uma história antiga e repleta de episódios muito interessantes. Gostaria aqui de salientar que o Cazaquistão serviu como um modelo para a Eurásia, um lugar onde as melhores tradições e valores da Europa e da Ásia se uniram.
Além disso, fiquei absolutamente fascinado pela diversidade da natureza do Cazaquistão. O país conta com belas áreas de florestas preservadas, estepes, montanhas, desertos, quase todos os tipos de flora e fauna. O Mar Cáspio é uma área que une vários países da região. Pode dizer-se que o Cazaquistão está localizado no centro da “Grande Rota da Seda.”
7. Como o Senhor vê o futuro das relações entre o Brasil e o Cazaquistão? Há alguma particularidade a destacar?
Os nossos países estão separados pelo Oceano Atlântico em cerca de 20.000 quilómetros, mas somos muito próximos em espírito, mentalidade e bondade. Penso que na era das tecnologias digitais também podemos cooperar muito estreitamente no formato online.
O principal a fazer é promover ativamente o intercâmbio cultural, para que mais jovens possam estudar em nossos países. Trabalhar para quebrar as barreiras idiomáticas para que assim possamos conhecer mais sobre as nossas regiões. O caminho é organizar cada vez mais apresentações, descobrir e encorajar o interesse mútuo sobre os nossos países. Isto é exatamente o que a nossa Sociedade de Amizade fará.