Premiado autor Alain Mabanckou participa de evento em Brasília apoiado pela embaixada da França

Escritor palestrou no Congresso Pan-Americano de Professores de Francês da FIPF, realizado na UnB

Um dos destaques da programação do Congresso Pan-Americano de Professores de Francês da FIPF, realizado na UnB, foi a palestra do escritor Alain Mabanckou.

Nascido na República do Congo, Mabanckou formou-se em Direito em seu país e ganhou uma bolsa de estudos na França quando tinha 22 anos. Concluiu sua pós-graduação em Direito na Universidade de Paris-Dauphine. Sempre dedicado à literatura, publicou seu primeiro romance, Bleu-Blanc-Rouge, em 1998, que lhe rendeu o Grand Prix Littéraire de l’Afrique noire.

Ao longo de sua trajetória, o autor coleciona prêmios, reconhecimentos e elogios da crítica especializada. Várias de suas obras estão disponíveis no Brasil, com destaque para “Memórias de Porco-espinho” (editora Malê), com o qual ganhou o Prix Renaudot, em 2006. Também foram traduzidas para o português “Copo Quebrado” (Editora Malê), “Irmã-Estrela” (FTD), “Moisés Negro” (Editora Malê).

Em Brasília, para participar do Congresso Pan-Americano de Professores de Francês da FIPF,  Mabanckou concedeu entrevista nesta segunda-feira (20), para o Brasília in Foco.

No Brasil, hoje é o Dia da Consciência Negra. Por que é importante celebrar e também debater o racismo no país? 

Acho que é muito importante celebrar este dia, pois o Brasil é um país em que muitas pessoas negras precisam lembrar quem são os seus ancestrais, de onde elas vieram e o que eles faziam antes do período de escravidão.

Também acho que essas pessoas negras, ao também reconhecerem que são brasileiras, vão se mobilizar para construir um outro tipo de sociedade. Penso que, mesmo sendo um movimento que ocorre um pouco mais tarde que em outros países, é importante fazerem esses questionamentos. Na França, na Bélgica e em outras nações, as pessoas negras já defendem sua identidade. Por isso, o Brasil poderia tomar como exemplo o que os afrodescendentes fizeram na França, ou o que os afro-americanos já realizaram nos Estados Unidos.

Os negros têm de buscar seus direitos, mas também agradecer que seu país reconhece essa data como um dia de lembrança da negritude.

Você acredita que as coisas estão evoluindo como deveriam? O que pode ser feito para garantir a mobilidade social e oportunidades iguais? 

Acho que para fazer as coisas evoluírem, precisamos pensar em como criar justiça e eliminar as desigualdades na sociedade. Eu não conheço as condições de vida das pessoas negras aqui no Brasil, mas pelo que eu li e ouvi falar, ainda estão lutando.

A maioria das pessoas negras vivem na pobreza. Então, espero que o governo comece a criar políticas que vão ajudar essas pessoas a alcançarem seus objetivos. Isso significa que é preciso fazer algo mais, começando por oferecer às pessoas negras oportunidades de trabalho, bem como acesso à saúde e segurança. E, principalmente, precisa considerá-los como cidadãos iguais aos outros.

Esta não é uma nação de pretos, brancos ou indígenas; é uma nação de brasileiros. Isso significa que, se você veio para cá, então precisa viver junto com os outros.

Como você vê a realidade enfrentada pelos africanos que saíram do continente africano para viver em outros lugares? 

É sempre difícil quando você abandona seu continente e vai para a Europa ou para os Estados Unidos. Porque você será sempre um tipo de imigrante, então precisa se acostumar com o.modo de vida do país em que está morando.

Em segundo lugar, é preciso entender que as regras sociais não são as mesmas de onde você veio. Assim, o imigrante precisa entender como preservar sua identidade no meio de uma cultura diferente.

Infelizmente, testemunhos muitas tragédias recentes envolvendo africanos que tentam atravessar o mar para viver na Europa e enfrentam um forte racismo e manifestações de ódio contra eles. Mas todos sabemos a importância que os negros tiveram para fazer da Europa o que ela é hoje.

Você transmite muitas mensagens de igualdade através de seus livros. Qual a importância dos autores latino-americanos falarem sobre igualdade racial e direitos humanos, além de combater o racismo?

Penso que os autores precisam descrever e testificar sobre o que está acontecendo ao seu redor ou sobre o que ocorreu antes. Isso não significa que os autores negros precisam falar somente sobre racismo e negritude. Porém, o fato de você ser escritor lhe confere uma voz que pode ser usada nesse sentido.

Mas se você não é escritor, pode ser um cidadão que mostra sua indignação e insatisfação com essas coisas, ajudando a pauta a avançar.

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