O Presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, fez um apelo por uma reforma abrangente da ONU, um fortalecimento da cooperação global e medidas urgentes em prol da paz, da sustentabilidade e da equidade digital em um período de crescente instabilidade, durante o Debate Geral da 80ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, realizado em 23 de setembro, em Nova York.
ONU deve se adaptar às realidades atuais, afirma Tokayev
Em seu discurso, o Presidente Tokayev destacou a necessidade urgente de uma reforma abrangente do sistema das Nações Unidas. Refletindo sobre o legado de oito décadas da instituição, Tokayev reconheceu o papel central da ONU no enfrentamento dos desafios globais — mas alertou que a atual crise de confiança nas instituições multilaterais não pode ser ignorada.
“Também precisamos encarar a verdade: o mundo ao nosso redor mudou profundamente — e, infelizmente, não para melhor”, afirmou o Presidente, conclamando para que a ONU se torne mais “ajustada às realidades do mundo imprevisível de hoje.”
Reforma do Conselho de Segurança
Tokayev enfatizou que a reforma da ONU não é uma questão de “reflexões intermináveis”, mas uma “necessidade estratégica”. Um dos pilares centrais desse ousado esforço, segundo ele, deve ser a reforma do Conselho de Segurança da ONU. O Presidente Tokayev defendeu uma maior representação das grandes potências da Ásia, da África e da América Latina, em sistema rotativo, bem como um papel ampliado para as Potências Médias responsáveis.
“Elas podem atuar como pontes dentro da ONU quando as grandes potências estão divididas”, afirmou.
Tokayev também propôs a criação de uma equipe dedicada à apresentação de ideias concretas de reforma, ressaltando a necessidade de preservar os princípios fundadores da Carta das Nações Unidas, incluindo soberania, integridade territorial e resolução pacífica de disputas, sem aplicação seletiva.
Enfrentando conflitos globais
Ao tratar das zonas de conflito, Tokayev expressou a preocupação do Cazaquistão com a crise em curso na Ucrânia e com o desastre humanitário em Gaza.
“As disputas territoriais nunca são fáceis de resolver e exigem contenção mútua e responsabilidade em nome das gerações futuras”, declarou.
Sobre Gaza, Tokayev pediu a proteção total dos civis e o cumprimento do direito internacional humanitário, reiterando o apoio do Cazaquistão à solução de dois Estados, com a ONU desempenhando um papel central.
O Presidente Tokayev também saudou o êxito da mediação diplomática no Sul do Cáucaso, destacando a normalização das relações entre Azerbaijão e Armênia, sob a mediação do Presidente dos Estados Unidos.
Reconstruindo a confiança e a estabilidade estratégica
Advertindo que os tratados de controle de armamentos estão ruindo e que os gastos militares estão aumentando, Tokayev defendeu a retomada dos esforços internacionais em prol do desarmamento e da estabilidade global.
“O custo global da violência chegou a quase 20 trilhões de dólares”, observou, conclamando ao relançamento de um diálogo de alto nível entre as potências nucleares e propondo o Cazaquistão como sede de negociações informais sobre desarmamento nuclear.
Ele também reiterou a iniciativa de seu país de criar uma Agência Internacional de Segurança e Proteção Biológica.
Resiliência econômica e conectividade
O papel central do Cazaquistão na conectividade euro-asiática foi outro tema-chave. O Presidente Tokayev destacou a transformação do país em um importante centro logístico, responsável por 80% do trânsito terrestre entre a Ásia e a Europa.
“Até 2029, planejamos construir 5.000 quilômetros de novas linhas ferroviárias”, afirmou.
Ele ressaltou o compromisso do Cazaquistão com mercados abertos e investimento estrangeiro direto, observando que o país atraiu mais de 400 bilhões de dólares nas três décadas desde a independência.
Enfrentando as mudanças climáticas e a segurança hídrica
O Cazaquistão também enfrenta pressões ambientais, incluindo a tragédia do Mar de Aral, o rápido derretimento das geleiras e a redução do Mar Cáspio. Tokayev fez um apelo por medidas urgentes para enfrentar essas crises e anunciou que o Cazaquistão sediará uma Cúpula Ecológica Regional em abril de 2026.
Os esforços ambientais do país também incluem a campanha “Cazaquistão Limpo” e uma iniciativa para designar 2026 como o Ano Internacional dos Voluntários para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
“Proponho que a Assembleia Geral adote uma resolução proclamando 22 de abril como o Dia Internacional do Verdejar do Planeta”, declarou.
IA para o progresso humano
No campo da transformação digital, Tokayev destacou a ambição do Cazaquistão de se tornar um Estado totalmente digital dentro de três anos. Com 90% dos serviços públicos já digitalizados e um supercomputador nacional em operação, o país está adotando a inteligência artificial como motor de progresso.
“O Cazaquistão vê a inteligência artificial não apenas como mais um avanço tecnológico, mas como uma grande conquista que pode se tornar um verdadeiro motor do progresso humano”, afirmou.
Ele saudou o lançamento do Diálogo Global da ONU sobre Governança da IA, ressaltando a importância da justiça, da responsabilidade e do acesso inclusivo no desenvolvimento da inteligência artificial.
Reformas nacionais e estratégia econômica
O Presidente Tokayev apresentou as reformas políticas do Cazaquistão, incluindo o mandato presidencial único de sete anos e um modelo de governança mais forte e transparente, baseado no Estado de Direito.
Ele também delineou a estratégia energética de quatro pilares do Cazaquistão: petróleo e gás, carvão, urânio e minerais críticos, enfatizando que as energias renováveis devem fazer parte de uma transição energética equilibrada e tecnologicamente avançada.
A capacidade de exportação de grãos do Cazaquistão, que agora alcança 12 milhões de toneladas, também está posicionando o país como uma potência agrícola significativa nos mercados globais. Compromisso com a paz, o diálogo e a cooperação global
O Presidente Tokayev concluiu reafirmando o papel do Cazaquistão como construtor de pontes e promotor da paz no cenário global. “Continuaremos a escolher o equilíbrio em vez da dominação, a cooperação em vez da confrontação e a paz em vez da guerra”, ele declarou.