Dois autores que moram no Distrito Federal estão entre os dez semifinalistas da categoria Romance Literário da 66ª edição da maior premiação do gênero no Brasil: o Prêmio Jabuti. Os indicados são Fabiane Guimarães, concorrendo com Como se fosse um monstro, e André Cunha, indicado por Quem falou?.
O prêmio possui 22 categorias, que abrangem eixos de literatura, não ficção, produção editorial e inovação. Os nomes dos finalistas serão divulgados em 5 de novembro. Já a cerimônia de premiação está programada para 19 de novembro, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.
As obras
Segundo Fabiane Guimarães, Como se fosse um monstro “discute a maternidade do ponto de vista das mulheres que não querem ser mães” | Fotos: Divulgação/Secec-DF
Fabiane Guimarães explica que a ideia de seu livro Como se fosse um monstro surgiu a partir de uma reportagem que abordava um mercado clandestino: a prática de barriga de aluguel no Brasil. “Eu achei aquele tema muito interessante e falei ‘poxa, daria uma história muito legal’”, lembra. “E aí eu fiquei obsessivamente pensando nessa história na história de uma mulher que seria barriga de aluguel. Basicamente, esse é um livro que discute a maternidade de um ponto de vista um pouco atípico. Ele discute a maternidade do ponto de vista das mulheres que não querem ser mães. Trata sobre o direito de a mulher ao que ela pode fazer com o próprio corpo”.
A autora recebe a indicação como um importante momento em seu trabalho: “Eu sou escritora há 15 anos, então é um momento de reconhecimento do meu trabalho, de valorização, porque nem sempre é fácil ser escritor, muito menos ser escritor aqui no DF. A gente está longe dos centros culturais do país, que ficam na região Sudeste, então eu estou feliz principalmente por isso”.
Quem falou?, de André Cunha, foi produzido a partir do contexto da pandemia de covid-19
André Cunha, por sua vez, relata que a inspiração para o livro Quem falou? surgiu da vontade de falar da experiência da pandemia da covid-19 sob uma perspectiva não óbvia. “Foi um período traumático e de retração da economia, mas não para todos”, pontua.
“A indústria farmacêutica, por exemplo, viveu o seu auge. Na história, a narradora e protagonista Rebeca Witzack namora um cara que é representante comercial de um laboratório especializado em fabricar testes virais e vacinas. E esse cara ‘racha de ganhar dinheiro’, ou, como descobri que falam em Santa Catarina, onde se passa a história, ‘enricou na barriga grande’. Aí a obra apresenta esse contraste entre o fim do mundo lá fora e o ápice do luxo aqui dentro”.
O autor considera que Quem falou? é uma obra mais consistente e comercialmente viável, sendo um reflexo da sua evolução como autor. “Fui aprimorando meu estilo ao longo do caminho”, aponta. “Receber a indicação é a ponta do iceberg. Tem muitos anos de dedicação e reflexão por trás; diria mesmo uma dose de teimosia. Escritor tem que ser teimoso. Desistir é sempre o caminho mais fácil”.