Cerca de dois terços dos viajantes do mundo são mulheres. Também são elas que tomam 80% das decisões sobre para onde viajar com a família ou grupos de amigos, de acordo com a diretora de Marketing Internacional, Negócios e Sustentabilidade da Embratur, Jaqueline Gil, que participou de forma remota do Seminário ‘Mulheres e Negócios Internacionais’, promovido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) nesta segunda-feira .
No evento, realizado em São Paulo (SP), a ApexBrasil apresentou os resultados do programa de comprometimento de igualdade de gênero nas exportações da agência, que completou um ano e tem a Embratur como parceira. Jaqueline Gil lembrou, em sua fala, que embora o setor de turismo seja de maioria feminina, as mulheres não têm maioria nos espaços de tomada de decisões de ambientes corporativos.
“O turismo é um setor de negócios, de exportação de serviço, em que o empreendedor compra seu serviço in loco no destino. Ele que se desloca para fazer a conta. E é um setor decidido majoritariamente pelo emocional”, contextualizou, destacando a importância de existirem mais mulheres em cargos de liderança.
A diretora, que participou do evento por videoconferência direto de Brasília (DF), também destacou as prioridades definidas pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, que resultaram na implementação de setores para garantir a diversidade na promoção do Brasil no exterior, e apontou o desafio de mudar a imagem do país lá fora. Entre as coordenações criadas está um comitê de práticas sociais, ambientais e governança (ESG, na sigla em inglês), e uma coordenação de diversidade, que trabalha com o afroturismo e povos indígenas.
De acordo com Jaqueline Gil, um dos desafios da Embratur e do trade turístico é mudar a imagem que o Brasil consolidou com décadas de campanha no exterior: “Nas décadas de 1980 a 1990 não era raro campanhas promocionais que objetificavam as mulheres. Isso mudou desde o primeiro governo do presidente Lula. Tomamos conscientemente decisões que impactam na percepção do Brasil como destinos de turismo quando trocamos a chefe branca por uma chefe preta, quando eu tiro a mulher dos serviços gerais e a coloco como protagonista de uma viagem. É uma mensagem forte”, citou ela, destacando que não é simples e rápido reverter a antiga imagem.
“Sabemos que a maioria das pessoas que trabalham na Embratur são mulheres. E com total apoio do presidente Freixo, temos acrescentado camadas, indo para temas relacionados a mulheres pretas e de outras origens. O afroturismo está relacionado a isso e sabemos que a grande maioria da população é preta ou parda. Assumimos o compromisso nessa rota de nos reposicionarmos, com um exercício firme para colocar o Brasil como destino muito além dessas pesquisas. Queremos posicionar a mulher como protagonista desse processo do turismo”, disse.
Equidade obrigatória
Participaram do seminário o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, a diretora de Negócios da agência, Ana Paula Repezza, Jaqueline Gil, representando a Embratur, Ana Carolina Quirino, da ONU Mulheres, a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Tatiana Prazeres, a secretária executiva do Ministério das Mulheres, Maria Helena Guarezi, a subsecretaria de Mulheres Rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Patrícia Mourão, a deputada federal Jaque Rocha (PT-ES) e o secretário nacional de Microempresa do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Maurício Juvenal.
Em sua fala, a primeira do evento, Ana Paula Repezza destacou que a Apex conseguiu garantir 50% de mulheres nas posições de liderança em seus cargos. De acordo com Repezza, entre as ações de equidade, a agência incluiu a exigência de equidade no próprio estatuto.
“As mulheres aqui representam o quão longe podemos chegar quando temos o ímpeto de provocar mudanças. Um ano atrás, nós estávamos lançando esse compromisso, que partiu de uma convicção muito clara da Apex, em alinhamento com o presidente Lula e a primeira-dama, Janja, que precisamos promover uma sociedade mais equânime”, afirmou.
Já o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, destacou que o compromisso rendeu um prêmio para a agência do Movimento Elas Lideram 2030, da ONU. “Palavras convencem, mas o exemplo arrasta. Essa atitude que a Apex tomou, o Governo do Brasil, tomamos porque temos que dar exemplo. Começamos esse trabalho e encontramos 20 parceiros. Agora são 50. Mais 30 entidades viraram parceiras. Não há mais argumento para não fazer essa transformação”, ressaltou.
Resultados e parceria
Na hora de firmar parcerias com empresas exportadoras, a ApexBrasil passou a contabilizar a liderança feminina na pontuação para a escolha desses empreendimentos. Somente em 2023, a agência apoiou 2.858 companhias que cumpriam o requisito. O número representa um crescimento de 32% em relação ao ano anterior, conforme divulgou a Folha de São Paulo, parceira do seminário.
O programa de comprometimento de igualdade de gênero tem como objetivo que 50% das empresas atendidas pela agência sejam lideradas por mulheres. Hoje, essa porcentagem é de 14%, segundo relatório do MDIC.
A Embratur assinou, em 28 de fevereiro, após convite da ApexBrasil, uma carta de apoio ao programa de comprometimento de igualdade de gênero nas exportações. A assinatura aconteceu durante a Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), feira do setor na capital portuguesa. Assinaram o documento Marcelo Freixo, Jaqueline Gil, e o diretor de Gestão e Inovação da Agência, Roberto Gevaerd.
Na carta, Freixo destaca que a Embratur compartilha da mesma ambição da ApexBrasil “de alcançar um mundo mais justo, solidário e diverso no que tange à participação igualitária e equitativa de mulheres e homens nos mais diversos setores da economia e postos de trabalho”.
“Declaramos nosso apoio ao Compromisso ApexBrasil de Equidade de Gênero, lançado em 13 de março de 2023, por meio do qual essa importante Agência destaca o seu comprometimento com ‘a equidade de gênero na sua força de trabalho e na execução da sua missão institucional, de forma a promover maior participação das mulheres na governança da Agência, bem como na estrutura econômica global, incentivando e apoiando que mais mulheres atuem nos negócios internacionais’”, afirma o documento.