Previsto desde o projeto urbanístico de Lucio Costa, o espaço conserva as coleções de plantas características do bioma do Planalto Central ao mesmo tempo que dissemina conhecimento e serve de refúgio para a população ao permitir o contato com a natureza
Em 8 de março de 2024, o Jardim Botânico de Brasília (JBB) completa 39 anos. São quase quatro décadas de preservação da vegetação do Cerrado, disseminando conhecimento científico e garantindo um espaço de contato da população com a natureza. Atualmente, o equipamento público está entre os jardins botânicos do Brasil com maior nível de estrutura de conservação da biodiversidade de plantas.
Às vésperas do aniversário do espaço, a Agência Brasília conta a história do local em mais uma matéria da série especial #TBTdoDF – referência à sigla em inglês de Throwback Thursday (em tradução livre, quinta-feira de retrocesso), que resgata histórias importantes da cidade.
Apesar de ter sido inaugurado quase 25 anos depois da capital federal, o “jardim do Cerrado” foi previsto durante a construção da cidade. Originalmente, o plano urbanístico de Lucio Costa, vencedor do Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil (1957), estabelecia o espaço na área central, atrás do estádio, nas proximidades do Eixo Monumental.
“De um lado, o estádio e mais dependências, tendo aos fundos o Jardim Botânico; do outro, o hipódromo com as respectivas tribunas e vila hípica e, contíguo, o Jardim Zoológico, constituindo estas duas imensas áreas verdes, simetricamente dispostas em relação ao Eixo Monumental, como que os pulmões da nova cidade”, escreveu Lucio Costa no tópico 12 do planejamento.
A proposta acabou não indo para a frente. O principal impedimento foi a ausência de água em abundância na região. O Jardim Botânico de Brasília por pouco também não teve outros endereços. Ele quase foi instalado próximo ao Parque da Cidade ou incorporado ao espaço do Zoológico de Brasília. Mas todas essas ideias ficaram estagnadas.
“Como havia um no Rio de Janeiro, quando a capital veio para cá, tiveram a ideia de fazer o jardim botânico no centro de Brasília, mas um dos principais recursos não existia: a água. Depois teve-se a ideia de ficar mais próximo ao Parque da Cidade ou ainda onde o Zoológico é hoje, só que depois surgiu um grande incentivo para se criar algo diferenciado”, lembra o diretor de Projetos, Coleções e Paisagismo do JBB, Elton Baia.
Apenas em 1977, após a análise de uma comissão, definiu-se que o JBB deveria ocupar a Área de Proteção Ambiental (APA) das bacias do Gama e Cabeça de Veado, situada no Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, em terras pertencentes à Terracap. A inauguração ocorreu em 1985.
Visitação e conhecimento
O Jardim Botânico nasceu de uma cultura europeia de manter coleções de plantas. Por esse motivo, o espaço tem entre suas missões a difusão do conhecimento científico, seja por meio da publicação de dados e divulgação das espécies, seja orientando e ensinando os visitantes sobre o bioma Cerrado.
“O nosso objetivo, além de desenvolver informações sobre o Cerrado, é fazer com que as pessoas se sintam mais inseridas neste paraíso. Queremos estimular isso sempre. Não só o conhecimento, mas o contato com os jardins e o ambiente preservado”, defende o diretor.
Disso é o que a analista processual Samira Serra, 45 anos, mais gosta no espaço. Ela costuma ir ao local regularmente com o marido e as duas filhas. Lá eles se conectam com a natureza brasiliense. “Como moramos no Sudoeste, sempre que dá, estamos aqui. É um espaço maravilhoso de muita natureza e muitas opções de passeios. Há tanta diversidade de plantas que sempre que passeamos estamos adquirindo conhecimento, aprendendo sobre a vegetação local e a propriedade medicinal delas”, afirma.
Dos mais de cinco mil hectares do parque, 4.430 são de uso restrito, destinados à pesquisa e preservação, enquanto 526 são para visitação pública. Estão lá restaurantes e locais de alimentação, centro de visitantes, orquidário, jardins, anfiteatro, herbário, trilhas ecológicas e horto medicinal.
Alguns desses locais foram reformados nos últimos anos. É o caso do Orquidário Margaret Mee, que compõe o projeto de paisagismo do Jardim Evolutivo. As instalações foram readequadas com a reforma do prédio e a implantação de um novo projeto de paisagismo.
Quem percebeu a diferença no local e aprovou a mudança foi a frequentadora Cintia Motta, 34 anos. Educadora física, todo domingo ela vai até o Jardim Botânico de Brasília para se desconectar da correria do dia a dia. “Geralmente venho caminhar aos domingos para desopilar. Acho que é um lugar que traz paz e nos revigora. É muito agradável. Gosto de vir para me sentir mais leve”, revela.
Dentro do orquidário, Cintia conta que percebeu a transformação do espaço e também de outras áreas do JBB. “Aqui está muito mais bonito com esse novo paisagismo. Também achei que os sanitários estão melhores. Gosto muito daqui porque está sempre limpo e organizado”, acrescenta.
Outro local reformado nos últimos anos foi o herbário, que ganhou uma nova sede batizada de Ezechias Paulo Heringer. Um dos mais modernos do país, o espaço abriga quase 40 mil espécies de plantas e vegetações nativas do Cerrado, constituindo um dos acervos científicos mais ricos e abrangentes do Brasil. Além de preservar o legado do bioma, a ampliação permitiu o aumento no número de coleta de espécimes para futuras pesquisas.
“Tínhamos prédios muito antigos que estavam com problemas estruturais e que foram se deteriorando. Nosso trabalho é todo para mantermos o nível classe A do Jardim Botânico”, completa o diretor Elton Baia. A cada dois anos, uma comissão formada por servidores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), realiza uma avaliação para garantir que o JBB continue a ser uma referência em pesquisa e conservação.
O Jardim Botânico de Brasília funciona todos os dias, com exceção da segunda-feira, das 9h às 17h, com entrada permitida até as 16h30. Durante esse período é cobrada a taxa de R$ 5 para pessoas de 12 a 60 anos. O pagamento pode ser feito em dinheiro, Pix ou cartão de crédito. Menores de 12 anos e maiores de 60 são isentos da cobrança, pedestres e ciclistas também, entre 7h30 e 8h50.
Agência Brasília