O Brasil quer aproveitar sua presidência no G20 para propor reformas em instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMC), afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Em reunião para constituir a Comissão Nacional do G20, que será encarregada de coordenar o mandado do Brasil no grupo, Haddad declarou que o mandato brasileiro na presidência do bloco servirá de oportunidade para uma “reglobalização sustentável” que promova a transição energética do planeta.
O Brasil assumirá pela primeira vez a presidência do G20 entre 1º de dezembro e 30 de novembro de 2024. Durante este período, estão previstas 104 reuniões, além de uma Conferência de Cúpula do bloco, em novembro de 2024, no Rio de Janeiro.
Acompanhado do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, Haddad disse que o G20 se tornou o principal fórum de discussões entre os países com a crise em organizações multilaterais tradicionais. “Com a crise de multilateralismo, o G20 é o fórum com mais impacto no mundo. É onde podemos destravar questões fundamentais para o Brasil”. Segundo Haddad, os países precisam se entender para evitar a fragmentação da economia global.
“Do ponto de vista econômico, o mundo está numa encruzilhada: ou continuamos caminhando numa crescente fragmentação, com a formação de blocos protecionistas e com consequências imprevisíveis para a estabilidade geopolítica, ou implementamos uma nova globalização, desta vez colocando questões socioambientais no centro de nossas preocupações”, alertou o ministro.
Para ele, uma nova globalização pode ser feita. E o G20 será um instrumento importante para resgatar a contribuição multilateral entre os países. Além da orientação para a transição energética e o desenvolvimento sustentável, esse processo seria feito sem repetir o erro de desregulamentar o sistema financeiro internacional, que causou a crise econômica de 2008.
Na avaliação de Haddad, o Brasil tem a oportunidade de pautar a economia mundial nos próximos 12 meses, atendendo aos interesses do país, da América Latina e do Sul Global (países em desenvolvimento e subdesenvolvidos).
“O G20 é nossa chance de botar a mão na massa e fazer o motor externo funcionar da melhor maneira possível para os interesses do Brasil e dos demais países da América Latina. Não é todo dia que temos a chance de pautarmos os trabalhos do G20. Temos que usar essa oportunidade para avançar nossa visão de um mundo mais integrado”, ressaltou.
A concretização das promessas, admitiu o ministro, enfrentará dificuldades, com o surgimento de guerras e o retorno do protecionismo de países ricos.
“Há diversos fatores sobre os quais não temos controle: conflitos, guerras, questões geopolíticas de forças extremistas, crises do multilateralismo, com instituições fundamentais, como ONU, Banco Mundial, OMC e FMI, funcionando muito aquém do que deveriam. Isso sem mencionar a crise climática e a volta do protecionismo dos países ricos. Não estamos em uma quadra tranquila da história mundial”, avaliou.
O ministro também prometeu um esforço para resolver a dívida externa de países pobres.
“Nossas prioridades da trilha financeira do G20 serão trabalhar para prevenir riscos por meio de coordenação eficaz de políticas econômicas e financeiras, colocar a desigualdade no centro da agenda macroeconômica a nível global, promover o fluxo contínuo de recursos concessionais (recursos de concessões de infraestrutura) para países de baixa e média renda, avançar na resolução da dívida externa desses países, em particular dos países africanos, e criar mecanismos apropriados para o compartilhamento de risco entre o capital público e privado para promover mudanças ecológicas equitativas”, concluiu Haddad.
As informações são da Agência Xinhua.