Entrevista com Kairat Umarov, Primeiro Vice-Ministro das Relações Exteriores do Cazaquistão

Representado pela jornalista Fabiana Ceyhan, O Mundo Diplomático esteve no Cazaquistão a convite do governo local. O site cobriu o Astana International Forum, que debateu temas importantes sobre o futuro do planeta.

Durante a estada no país, a jornalista entrevistou o vice-ministro das Relações Exteriores Exteriores do Cazaquistão, Kairat Umarov. Na pauta, as relações bilaterais, os BRICS e o posicionamento estratégico do Cazaquistão.

Fabiana Ceyhan: Como estão as relações entre o Cazaquistão e o Brasil atualmente e quais os planos para o futuro?

Kairat Umarov: É um prazer para mim falar com seu veículo. Espero informar assim nossos amigos brasileiros sobre o Cazaquistão.

Devo dizer que em 2023 comemoramos 30 anos de relações diplomáticas entre os dois países. É um acontecimento importante, pois 30 anos não é um período curto. Nossas relações estão crescendo de forma estável, progressiva e muito consistente. Observando a história de nossas relações, estabelecemos uma cooperação política, econômica e social e cultural muito forte entre os dois países. Estamos muito distantes um do outro e isso faz diferença. Ao mesmo tempo, acho que a disposição dos dois lados para se conectar continua sendo a principal razão para o crescimento.

Nossos países são muito parecidos. Nossos povos são hospitalários e têm o mesmo caráter. O mais importante é a vontade de conversar e continuar o diálogo. Durante esses 30 anos, tivemos consultas políticas, visitas de chefes de Estado, ministros e outros representantes de diversas áreas. Fico muito feliz que as distâncias não tenham nos impedido de desenvolver essas relações bem-sucedidas.

Fabiana Ceyhan, entrevistadora: O que o senhor acha que poderíamos fazer mais no futuro? O que espera para essa relação bilateral?

Kairat Umarov, Primeiro Vice-Ministro de Relações Exteriores do Cazaquistão: Devo dizer que não é apenas bilateralmente, mas também multilateralmente que cooperamos de forma muito ativa.

Estive recentemente na reunião do Brics na África do Sul. O Brasil participou desse encontro como um dos membros fundadores dessa organização muito influente e em crescimento. O Cazaquistão gostaria de se juntar a esse grupo e esse foi o objetivo da minha viagem.

Discutimos com seu ministro das Relações Exteriores [Mauro Vieira] diferentes maneiras de continuarmos trabalhando juntos, pois o Brasil tem um histórico muito forte em questões de não proliferação. Acho que isso é muito importante porque não estamos trabalhando apenas para nossos interesses nacionais, mas para os interesses do resto do mundo. Quanto às perspectivas, eu diria que temos um desenvolvimento bastante interessante sobre as relações.

Por exemplo, a agricultura é uma área muito promissora. Gostaríamos de trabalhar na esfera da engenharia, na área científica. Queremos fechar as parcerias entre as principais universidades dos dois países.

Além disso, o Cazaquistão está fornecendo urânio ao Brasil porque somos o maior país produtor de urânio do mundo. O Cazaquistão tem muitos recursos e metais de terras raras que são importantes hoje em dia para a economia verde e todos entendemos a importância da sustentabilidade. Podemos nos ajudar mutuamente a crescer nos mercados mundiais se realmente utilizarmos todo o potencial que nossos países têm.

Em nossa região, o Cazaquistão é o maior e mais avançado país. Gostaria de dizer que 70% de todos os investimentos que estão chegando à Ásia Central vão para o Cazaquistão. Desde a independência, há 30 anos, aumentamos nossa economia em 21 vezes e atraímos cerca de 370 bilhões de dólares de investimentos de 120 países.

Sei que o Brasil também é muito forte do ponto de vista de investimentos, portanto, podemos realmente trabalhar juntos e ver como podemos continuar desenvolver nossas relações. Além disso, em nível multilateral, há boas perspectivas. Reuni-me com o ministro Vieira, discutimos muitas questões que são importantes, como a situação da COVID-19, quando tivemos que unir nossos esforços, e a reforma das estruturas da ONU, porque essas são as grandes questões de que precisamos para trazer uma vida melhor para todos.

Outro ponto muito importante é a cooperação cultural e humanitária. Lançamos a ‘Biblioteca do Cazaquistão’ no Brasil, onde tentamos apresentar nossa cultura e história ao povo brasileiro para que eles entendam um pouco de nossa mentalidade. Estamos felizes por termos o Grupo de Amizade no Parlamento e ele está crescendo.

Gostaríamos de melhorar as relações. Temos 30 anos de relações diplomáticas e devo dizer que elas têm seu próprio dinamismo. A cooperação está aumentando de maneira rápida, já que a senhora está vindo aqui e fazendo parte dos eventos aqui e conhecendo pessoas, discutindo os temas importantes, porque isso será uma ajuda muito boa para as pessoas no Brasil entenderem quem somos e o que estamos fazendo nessa parte do mundo. O Cazaquistão foi e continua sendo a conexão da Rota da Seda entre os centros geopolíticos, entre os centros de conhecimento, entre a Ásia e a Europa. Claro, não é só para a Ásia e a Europa que estamos olhando. Olhamos para o resto do mundo e a América Latina é um continente muito interessante. Vocês construíram sua capital, Brasília. Veja que também temos uma nova capital. Nisso continuamos sendo parecidos e temos muito a compartilhar sobre nossas experiências. Planejo visitar seu país novamente. Já visitei o Brasil. Estive em seu país, precisamente no Rio. Foi em 2013, quando eu era vice-ministro das Relações Exteriores. Participei da grande conferência dedicada às questões ambientais.

Fabiana Ceyhan: Estou trabalhando ativamente em tópicos como BRICS e com países do bloco. Visitei a China a convite do governo, por isso estou trabalhando ativamente nessa área. Espero que seu país entre para o BRICS em breve.

Kairat Umarov: Durante a reunião com o atual presidente do BRICS, o Ministro das Relações Exteriores da África do Sul, brinquei com o nome da organização. Se você ver a palavra BRICS em inglês [Bricks], está faltando o ‘K’. Eu disse que provavelmente nosso país está faltando lá, então os senhores têm que colocar o ‘K’ para ser o bloco de construção. Para nós, é um desenvolvimento muito importante. Achamos que o BRICS é uma organização onde deveríamos estar. Muitas coisas precisam ser feitas para estabilizar a situação geopolítica no mundo.

Nessa região, o Cazaquistão é uma economia avançada e estamos ajudando nossos vizinhos a crescer. Continuamos a nos desenvolver e podemos ser o canal para que outros países venham fazer negócios ou trabalhar aqui, o que pode abrir novos negócios para o desenvolvimento.

Gostaria de lhe agradecer por sua visita. Espero que seja bem-sucedida e produtiva e estou ansioso para vê-la no Brasil, provavelmente muito em breve. Estou planejando visitar Brasília, então espero que possamos nos ver.

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