O Embaixador Toufik Dahmani celebrou a data nacional da Argélia em 01 de novembro em Brasília . A Argélia comemora o 64º aniversário do início da Revolução de 1º de novembro de 1954. A revolução, que marcou a história contemporânea, permitiu ao povo argelino, depois de mais do que sete anos de luta armada conseguir a independência em 05 de julho de 1962. A festa em Brasília foi no Monte Líbano e contou com vários embaixadores e autoridades brasileiras.
Segue abaixo parte da entrevista do embaixador concedida ao Brasilia in Foco em 2017 ( Entrevista concedida a jornalista Fabiana Ceyhan, proibida a reprodução sem citar a fonte)
“As relações políticas entre a Argélia e o Brasil são excelentes. O Brasil foi um dos primeiros países a abrir uma embaixada na Argélia em 1962. As obras do grande arquiteto brasileiro Oscar Neimeyer na Argélia também testemunham os laços de amizade entre nossos dois países. Durante o período do regime militar, a Argélia acolheu muitos refugiados brasileiros que fugiram da perseguição do regime, incluindo o ex-governador de Pernambubo e grande figura de militância naquela época, Miguel Arraes, que morou na Argélia durante 14 anos (1965-1979). Na década de 1980, houve uma recuperação nas relações argelino-brasileiras, que culminou em duas visitas de estado, a primeira em 1983 do Presidente brasileiro João Figueiredo, seguida de uma visita de retorno do presidente Chadli Bendjedid. Durante este período, a assinatura de vários acordos que estabelecem o quadro legal para a cooperação bilateral deve ser destacada: Acordo de Cooperação Econômica, Comercial, Científica, Tecnológica, Técnica e Cultural (1981); Acordo que estabelece um comitê conjunto argelino-brasileiro (1981), Acordo Comercial (1981) ou o Acordo de Cooperação Econômica (1985). A primeira sessão da Grande Comissão Mista foi realizada em Argel em 1987.
No entanto, na década de 1990, as relações bilaterais foram um pouco letárgicas. Isso até o presidente Lula da Silva chegar. Os Presidentes Bouteflika e Lula deram um grande impulso às relações bilaterais. Os dois chefes de Estado decidiram traduzir a amizade e simpatia que unem os dois países em projetos de cooperação. A visita do Presidente Bouteflika ao Brasil em 2005 e a visita do Presidente Lula à Argélia em 2006 iniciaram uma nova dinâmica destinada a construir um relacionamento exemplar no contexto da cooperação Sul-Sul. Várias missões técnicas, empresários e decisores políticos e autoridades foram realizadas para acompanhar as decisões tomadas pelos presidentes. Projetos de cooperação foram acordados em setores como energia, saúde, agricultura, artesanato, recursos hídricos, entre outros.
Além disso, os dois países possuem muitas convergências de pontos de vista sobre todas as questões regionais e internacionais, como as crises na Síria, na Líbia e no Mali. Eles defendem conjuntamente o multilateralismo e o diálogo político como meio de resolução de conflitos em vez de intervenções estrangeiras. O meu prazer é multiplicado por dez pois tenho a oportunidade de recordar, aqui, como os povos argelinos e brasileiros, embora vivam em países muito distantes uns dos outros, se sentem mais do que nunca vinculados por suas aspirações e esperanças por um mundo melhor. A solidariedade inestimável liga os dois povos através de décadas. Uma solidariedade, mais do que nunca indispensável, para enfrentar os desafios do nosso século. Os laços que unem nossos dois povos são bem mais velhos e datam de bem antes da Independência da Argélia em 1962. De fato, desde a época da “Regência de Argel” ou do reinado de Emir Abdelkader, estadista e grande figura argelina, que laços diplomáticos, humanos e sociais ligavam os dois países. Neste contexto, permito lembrar a existência de trocas de cartas, fotos ou documentos entre Emir Abdel Kader e o Imperador do Brasil. Aproveito a oportunidade para encorajar historiadores e estudiosos a explorar e estudar esses documentos inestimáveis. ”
História
Em 1º de julho de 1962, houve um referendo sobre a independência, em que 5.990.000 argelinos se pronunciaram a favor do “sim”, e 16.400 pelo “não”.Um cessar-fogo foi decretado em 19 de março, após sete anos e quatro meses de um conflito que a França não chamava de guerra. Segundo Argel, 1,5 milhão de argelinos morreram nos combates. A independência foi proclamada em 3 de julho, após 132 anos de presença francesa na Argélia. Mas os argelinos preferiram comemorá-la em 5 de julho, mesmo dia em que o governador de Argel, Husein, capitulou, em 5 de julho de 1830, deixando a capital para o marechal francês Bourmont. Ahmed Ben Bella, primeiro chefe de Estado da Argélia independente, havia sido libertado meses antes, após a assinatura, em 18 de março de 1962, dos Acordos de Evian, entre representantes franceses e do governo provisório da república argelina, liderados por Krim Belkacem, coronel do Exército de Libertação Nacional.