Vice-chefe da representação indiana no Brasil fala da importância desses servidores.
Por
ABHAY K.*
Tradução de Eduarda Sahlit
No dia 9 de outubro passado, funcionários do Serviço Externo da Índia (IFS) comemoraram o Dia do Serviço Externo da Índia, para lembrar a criação desse ramo de servidores civis neste mesmo dia, em 1946. Da mesma forma, diplomatas russos escolheram o dia 10 de fevereiro para marcar a criação de sua especialidade nos serviços do país. Criada em 2002 por ordem presidencial, a data comemorativa foi escolhida porque foi exatamente quando o primeiro escritório internacional da Rússia – o Posolsky Prikaz – foi inaugurado, em 10 de fevereiro de 1549. O dia destaca o papel que os diplomatas desempenham no avanço dos interesses de seu país e ajuda as pessoas a compreenderem a diplomacia como uma profissão nobre.
Em todo o mundo, os diplomatas são estereotipados como sendo comedores de lótus que vivem cercados de glamour nas capitais do mundo, longe da realidade das lutas diárias. Isto está, de fato, longe de ser verdade. Muitos diplomatas enfrentam lutas desconhecidas para o povo que ficou em sua terra natal. Grande parte deles não esteve ao lado da família na ocasião da morte de pelo menos um dos seus pais. Eu mesmo, sendo um servidor do IFS, recebi a notícia da morte do meu pai por telefone, enquanto servia em Moscou.
Cônjuges de muitos diplomatas tiveram de desistir de suas carreiras para estar ao lado de seus maridos e esposas, que viajam pelo mundo. Filhos de diplomatas muitas vezes se sentem desorientados como resultado do freqüente movimento intercontinental de seus pais. Em muitos casos, eles têm de frequentar escolas locais, pois seus países de origem não fornecem dinheiro suficiente para a educação nas renomadas escolas internacionais.
Diplomatas precisam dominar várias línguas estrangeiras para se adaptarem aos países de credenciamento. Eles têm de estar presentes nas recepções oficiais quase todos os dias e socializar com seus anfitriões, o que afeta sua saúde. Tudo parece muito chique à distância para aqueles que não vivem isso todos os dias. Do ponto de vista de um diplomata, comer e beber por questão de cortesia e decoro são tarefas tediosas – muitas vezes, encontram sempre as mesmas pessoas, com muito pouco para conversar, exceto o clima, ou outro assunto quando alguém chega ou sai da reunião.
A GUERRA OCORRE QUANDO A DIPLOMACIA FALHA. UM PAÍS QUE POSSUI DIPLOMATAS QUALIFICADOS NÃO PRECISA IR À GUERRA.
Viajar longas distâncias com frequência também tem efeitos nocivos à saúde do diplomata. Houve um tempo em que existia uma enorme distância – tanto em termos de horas, quanto de quilômetros – entre os patrões do Ministério do Exterior e os diplomatas que serviam nos países estrangeiros. Agora, os patrões estão a uma distância de apenas uma mensagem de WhatsApp. Isso tirou a liberdade que os diplomatas tinham e que fazia deles, de certa forma, extensões da sede.
Os diplomatas, de onde quer que venham, têm experiências muito semelhantes, que adquirem ao longo de décadas servindo seus países. Eles costumam se encontrar em diferentes capitais, enquanto servem juntos, ou se veem durante breves visitas. Alguns deles tornam-se amigos por toda a vida, alguns até se casam com outros diplomatas e continuam servindo seus respectivos governos.
Os diplomatas desempenham papel fundamental na manutenção de uma ordem mundial pacífica por meio da comunicação eficaz entre os estados, estabelecendo memorandos de entendimento, acordos e tratados, para então implementá-los e aconselhar seus chefes sobre questões críticas de política externa.
Eles são peças fundamentais nos esforços para trazer e manter o mundo unido. De fato, a guerra ocorre quando a diplomacia falha, trazendo morte e destruição às sociedades e civilizações. Um país que possui diplomatas qualificados não precisa ir à guerra.
Tão somente por essas razões, a profissão deve ser verdadeiramente valorizada e um dia internacional de diplomatas deve ser celebrado em todo o mundo. Poderia ser o mesmo dia em que as Nações Unidas foram fundadas, trazendo ao mundo a esperança de um novo amanhã.
É claro que as Nações Unidas precisam de reformas – para se adaptarem às realidades de um mundo em permanente mudança -, mas o dia em que muitos países se uniram para fundar a instituição foi realmente uma grande ocasião. Foi o dia em que a diplomacia venceu a guerra como o principal instrumento de resolução de conflitos.
Vamos dedicar esse dia aos nossos bons diplomatas, que mantiveram o mundo funcionando apesar de várias ocasiões na história em que parecia que tudo ia acabar. Que o dia 24 de outubro – o dia em que a ONU foi fundada – possa ser comemorado como o Dia Internacional dos Diplomatas. Vamos celebrar a data a partir deste ano.
*Abhay K. é diplomata, escritor, poeta e autor de muitos livros. Recentemente, lançou em Brasília o livro de poesias “A Profecia de Brasilia”